Itanhaém - SP

És Tu o Esperado?

25/08/2011 21:30

 

Por Marcelo Ferreira 

 

Lucas 7.18-23

 

 Muita gente não compreende bem quem Jesus era e é.

 Mesmo em sua época havia quem esperasse dele o que ele não pretendia e nem poderia ser.

Será que nós deixamos que Jesus seja quem queria e quer ser?

 

Nesta passagem, encontramos mensageiros que João Batista envia até Jesus. Vale lembrar que João Batista está no cárcere a esta altura, aprisionado por Herodes. Sua vida ainda não está em jogo, contudo, encontra-se numa situação difícil. Ele vinha pregando a vinda do Messias (era o próprio precursor de Jesus), mas agora está no cárcere por pregar contra o adultério de Herodes. Para calá-lo, Herodes o havia colocado na prisão.

 

Nesta situação envia mensageiros a Jesus...

“Os discípulos de João anunciaram-lhe todas estas coisas”: A ressurreição do filho da viúva de Naim, a cura do servo do centurião de Cafarnaum, e todas as outras coisas que eles viam Jesus fazendo foram anunciadas a João para que ele soubesse.

 

Àquele Jesus que João antes anunciara a sua chegada, João envia dois de seus discípulos para perguntar: “És tu o que havia de vir, ou devemos esperar outro?” Esta pergunta parece estranha.… Esse é o mesmo João que tinha anunciado: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Esse é também o mesmo João que disse: “Vem um que já está entre vós cujas amarras das sandálias não sou digno de desatar” (referindo-se ao trabalho do escravo, que mesmo sendo trabalho de um escravo, João não se considerava digno). Assim, antes João havia anunciado: “Esse aí, é Aquele...” “Nem isso sou digno de fazer por ele”. Havia anunciado a seus discípulos que não era nada perante Jesus, agora no aperto, na dificuldade da prisão, parece inseguro.

 

Será que não sabia, ou será que havia esquecido? Quem sabe era outra coisa? Quando aqueles homens chegaram a Jesus, disseram: “João o batista nos enviou a perguntar-lhe: ‘És tu o que havia de vir ou devemos esperar outro?” Em lugar de responder em palavras, Jesus curou a muitos de doenças, de moléstias, de espíritos malignos e deu vista a muitos cegos. Então ele disse: “Ide e contai a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho e bem aventurado aquele que não se escandalizar de mim”. Que tipo de resposta é esta?

 

A pergunta não poderia ser mais direta? És tu aquele ou não, devemos esperar outro? Ou será que realmente entendemos a pergunta? Lembre-se que João, como também os demais judeus, ansiosamente esperavam o Messias e tinham certas expectativas referentes a esse esperado.

 

A maioria tinha a expectativa de que o Messias seria um novo rei para Israel. Vários já haviam tentado libertar Israel dos romanos, porém todos haviam fracassado. João esperava o Messias e até parece ter uma expectativa diferente dos judeus. Em seu ministério e pregação parece falar mais sobre arrependimento de pecados do que uma nova geração política para o povo. Mesmo assim também mantinha aspectos dessa mesma expectativa dos outros (a de um rei). Assim, estando João na prisão, ele gostaria de sair. A pergunta básica de João Batista é: “Jesus, sabemos que tu és o Messias. O que aguardas para te revelar (para revelar o que és). Eu, o teu precursor, anunciei o tempo de arrependimento, agora estou na prisão. Por enquanto, Herodes não quer me matar. Se tu vais livrar a Israel, o momento é esse (pelo menos para que eu saia da prisão). Vamos já estabelecer esse reino. Será que não está na hora?”

 

A resposta de Jesus parece mudar o enfoque por completo. Faz-nos voltar um pouco ao Lc 4: 18,19 com Jesus em Nazaré, a cidade onde crescera. Ele toma o rolo de Isaías e lê parte da expectativa do povo, onde diz: “o Espírito de Deus está sobre mim porquanto me ungiu para anunciar as boas novas aos pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração de vista aos cegos, para por em liberdade os cativos, para anunciar o ano aceitável do Senhor”.

 

O caráter messiânico de Jesus, segundo ele mesmo, é diferente daquelas expectativas que o povo tinha, diferente até mesmo das expectativas do próprio João Batista, que mesmo entendendo parte, não compreendia o todo. Era a hora de Jesus vir como o Messias, sim, mas não para cumprir tudo o que o povo esperava. Vinha ele para libertar? Sim. Também vinha para curar, livrar de opressão.

 

Mas qual opressão? Nessa passagem no capítulo 7, Jesus livra da opressão demoníaca, bem como da opressão social, pois o evangelho era pregado aos pobres, os quais perante a sociedade não eram nada, pior do que na nossa sociedade. Para o povo esses cegos, coxos, enfermos, e endemoninhados estavam sofrendo o castigo de Deus. A estes Jesus pregou uma nova vida, uma nova chance e o amor de Deus. O evangelista João registra que o auge do ministério de Jesus não foi ressuscitar os mortos, mas evangelizar os pobres. Esse foi o ponto culminante de seu ministério.

 

A palavra de Deus é para todos, sem distinção. O povo não entendia quem era o Messias, os discípulos também não (visto que fugiram no episódio da crucificação) e o próprio João Batista tampouco. Eles queriam um rei, queriam poder nacional, queriam independência (separação de Roma) queriam voltar para a época dourada de Davi e Salomão em que Israel era uma nação importante no mundo. Todas essas coisas teriam sido boas. João queria sair da prisão, afinal, estava sofrendo por lutar pela verdade. Que justificativa maior precisava ele para reivindicar a liberdade? O Messias não deveria libertar o povo de opressão? Isso até que foi afirmado pelas próprias palavras de Jesus.

 

Mesmo que João tivesse entendido que Jesus não era um Messias político, ele precisava entender um outro aspecto que nós também carecemos entender. A mensagem que Jesus veio pregar era, de fato, libertação, o sarar de necessidades e enfermidades. Mas era mais do que isso. João da prisão sentia o sofrimento de forma pessoal. “Tu não disseste que veio libertar os cativos?” Jesus havia dito isso, como se registra no capítulo 4. Jesus responde, porém: “Sim, mas não para exterminar todas as dificuldades, os problemas e aniquilar todo o sofrimento. O que vim dar é algo diferente e melhor, que vai além das expectativas do dia-a-dia”.

 

Às vezes, as nossas expectativas quanto a Jesus também estão erradas, também precisam de correção. Cantamos muitas vezes que Jesus é manso e suave, mas às vezes ele é direto e duro. Muitas vezes cantamos que ele dá libertação aos pobres, enfermos, endemoninhados e oprimidos, mas ele nem sempre faz da forma que queremos. Pregamos ao povo: “Venha a Jesus e ele vai solucionar todos os seus problemas!” Está certo até um ponto. Ele soluciona o problema maior que temos. Encaminha-nos no nosso relacionamento pessoal com Deus, que dá nova vida. Mas isso não quer dizer que não vamos sofrer necessidades, dificuldades, e prisões até mesmo injustas. Quer dizer, sim, que Ele nos leva além dessas dificuldades.

 

Paulo diz no livro de Filipenses, “tenho aprendido a contentar-me em qualquer situação, posso tudo naquele que me fortalece”. Essa é a libertação de Cristo. Venha o que vier, Ele me sustenta, me liberta, me dá nova vida. Ele me dá propósito, me dá razão. Posso confiar nele. Se Jesus fosse o Messias que muitas vezes esperamos, pensamos que não haveria mais fome na terra, pobreza, opressão, escravidão, e que nem haveria tantas outras coisas. Tais coisas, porém vem de nós mesmos, pois somos pecadores e ainda lutamos contra Deus e o plano de Deus para nossas vidas. Mesmo que essas coisas não sejam boas nem benéficas, o que Jesus nos oferece não é a erradicação de nossos problemas, mas a forma de termos vitória em meio a elas, uma nova vida.

 

Essa é uma nova vida que nos leva através dos problemas e que nos dá vitória em meio à prisão de Herodes. É a vitória que nos leva com Jesus até a cruz, e que em meio à sua morte reclama a vitória e nos dá nova vida. É a vitória que vemos em Paulo, Silas, Pedro e João, que tantas vezes é descrito no livro de Atos, dizendo “demos graças a Deus por termos sido considerados dignos de sofrer afrontas por causa do nome de Cristo”. Isso é vitória. Não que as afrontas sejam boas, mas que as afrontas sofridas não vencem o oprimido. É a vitória da nova vida que Cristo concede. Esse é o Messias que ele veio a ser. Veio dar-nos uma solução real para os problemas e não apenas a erradicação das dificuldades.

 

E hoje, quem é que nós esperamos? Será que a nossa visão e expectativas também não precisam ser corrigidas? Queremos todos ser ricos, poderosos, levar uma chamada “vida boa”. Mas os ricos e poderosos também tem problemas e dificuldades. Não necessariamente tem uma forma de serem vitoriosos sem essas muletas que carregam consigo suas muletas de poder e bens materiais. Até essas muletas costumam oprimir os seus donos.

 

“Eu vim para dar-lhes vida”, vida abundante, vida das eternidades, vida de uma nova criatura, vida de nova perspectiva, vida de comunhão com Deus.

 

Quem é Jesus? Será que realmente O conhecemos? Será que não estamos sendo levados pelos conceitos do povo ao nosso redor, pelas expectativas do povo lá fora, ao invés de olharmos para a palavra de Deus com o propósito de entender quem é realmente o Cristo? O Cristo que precisamos conhecer é aquele de quem a Palavra de Deus nos ensina. Precisamos aceitá-lo tal como é não como queremos que Ele seja.

Se o aceitarmos como ele realmente é, as nossas expectativas devem também ser modificadas. Teremos que aceitar a nossa posição devida perante Ele. Estamos prontos para aceitar o desafio? Quem é o nosso Senhor? Poderemos realmente chamá-lo assim de Senhor?

 “És tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?”

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